Mulheres ainda sofrem desigualdade e discriminação no mercado de trabalho, indicam dados do IBGE

Mulheres ainda sofrem desigualdade e discriminação no mercado de trabalho, indicam dados do IBGEA expansão da presença das mulheres no mercado de trabalho formal ainda está longe de ser a ideal para acabar com as desigualdades e a discriminação de gênero nesse ambiente. A realidade continua sendo desfavorável para elas. Ocupam menos vagas do que os homens, se concentram em setores específicos, recebem menos até quando exercem a mesma função e são expostas a violências, como as morais e sexuais. E quanto maior a escolaridade, maior a desigualdade. Mulher com ensino superior completo ou mais recebem cerca de 63% do que os homens na mesma situação recebem.

Os dados são da última publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no ano passado. De acordo com a publicação, em 2016, 21,5% das mulheres de 25 a 44 anos de idade concluíram o ensino superior contra 15,6% dos homens na mesma faixa etária, mas o rendimento delas equivalia a cerca de ¾ da renda masculina. Enquanto a média de rendimento dos homens foi de R$ 2.306, o das mulheres foi de R$ 1.764. Leia estudo completo aqui.

O estudo do IBGE foi feito em cima da Pnad Contínua e mostra que esse clima desfavorável não se resume a um setor. As desigualdades e as discriminações aparecem em todos os segmentos, no setor privado e no setor público. A administradora Tatiana Bragança Campos, 35 anos, completará em 2019 cinco anos fora do mercado de trabalho. A decisão veio após a vontade de ser mãe. Há cerca de um ano, ao tentar voltar para o mercado de trabalho, sentiu na pele a discriminação.

Tatiana foi chamada por cinco empresas e em uma delas, durante a entrevista, a pessoa levantou e falou que ela não “interessava” para a empresa por ter ficado quatro anos fora do mercado para ser mãe. “A pessoa deixou bem claro que era por conta de filho, da minha decisão de ser mãe em tempo integral, que ela não concordaria. E uma outra falou que estava muito tempo fora do mercado, que já mudou muita coisa, um descaso total, desinteresse total com o meu interesse em voltar. Senti isso e não imaginava que isso, de fato existisse. É muito estranho, muito ruim”, lamenta.

As desigualdades na hora de tratar e de enxergar a mulher dentro do mercado de trabalho não é diferente no ambiente político. A bancada feminina tem aumentado, no entanto, ainda são 77 deputadas em meio a um colegiado de mais de 500 homens, como afirma a deputada federal Leandre Dal Ponte (PV-PR). “A representatividade é pequena e no mercado de trabalho é a mesma coisa, mas problemas muito maiores para enfrentar, como a remuneração diferente, muitas vezes com responsabilidades maiores”, defende a parlamentar.

Segundo Leandre, é preciso mais do que políticas públicas e leis específicas para corrigir as disparidades. “O problema maior é mudar a cultura das pessoas. Respeitar as mulheres, valorizas as mulheres, combater a violência contra as mulheres, e não é uma luta da mulher, tem que ser uma luta da sociedade, de todas as pessoas, homens e mulheres, e de todas as idades, começar isso desde o início da vida do ser humano, colocando o quanto isso é importante”, indica a deputada federal.

Professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) Tânia Mara Campos de Almeida afirma que a discriminação influencia desde a quantidade de vagas até quais vagas serão ofertadas para as mulheres, fazendo com que os homens sejam eleitos com mais facilidade para posições em coordenadorias e chefias. “As mulheres têm que trabalhar dentro e fora de casa e ainda precisam se qualificar. Isso é muito oneroso, exigente, que impacta também na disponibilidade delas em viajar, fazer hora extra, por conta dos filhos, ou seja, ficam em posições secundárias, menos prestigiadas e reconhecidas financeiramente”, aponta a especialista.

Tânia Mara alerta para uma questão muito importante quando se fala sobre mulheres e o mercado de trabalho: a aposentadoria e a previdência. Em tempo de discussão e mudanças sobre as regras para homens e mulheres, essas diferenças impostas às mulheres não pode ser deixada de lado na hora de analisar prazos e direitos. Atualmente, é possível se aposentar sem idade mínima, a partir dos 35 anos de contribuição (homem) ou dos 30 (mulher); a partir de 65 anos (homem) ou 60 anos (mulher) com tempo mínimo de 15 anos de contribuição. A proposta do governo de reforma da Previdência Social vai prever idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres ao final de um período de transição de 12 anos.

“Precisa levar em conta para não deixar de debater e refletir sobre as nossas condições hoje na sociedade brasileira. Ainda que possa ter uma mulher ou outra que é um exemplo bem sucedida, são pontuais. A grande maioria ainda está em situação de muita discriminação e desigualdade no mundo do trabalho. E é essa maioria que deve ser olhada e não o caso que é considerado esporádico e eventual”, frisa Tânia Mara.

A situação feminina pode ficar mais clara quando se analisa alguns dados de 2017 do IBGE que mostram que as mulheres passam mais tempo do que os homens quando se soma as horas de trabalho dentro e de fora de casa. As mulheres empregadas trabalham em média 54,5 horas por semana, sendo 36,5h no emprego e 18h em casa. Enquanto isso, os homens empregados trabalham, em média, 51,6 horas por semana, sendo 41,1h no emprego e 10,5h em casa.

Por Camila Costa / Agência do Rádio Mais

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